Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro. Esta foi a primeira frase dita por
Lenora ao levantar-se à meia noite. Chovia, relâmpagos criavam sombras
monstruosas pelos aposentos de sua casa, na qual as portas abriam e fechavam,
rangendo, sem que ninguém as tocasse e gemidos podiam ser ouvidos ao longe.
Ela
relutava há tempos para sair da cama, pois não aceitava o fato de ter morrido
tão jovem e, por isso, ter sido forçada a abandonar seu marido Tomás. Como tudo
aconteceu é, para ela, tão obscuro quanto à noite. Lembra-se apenas de sentir a
alma saindo do corpo, sugada por uma grande força, e se deparar com um cenário
amedrontador: uma terra em que só havia noite, fantasmas lhe faziam companhia,
mortos caminhavam pela beira dás águas e animais nojentos e carniceiros
cercavam a sua casa. Ainda não havia se acostumado ao mundo dos mortos, que era
tão diferente do mundo dos vivos.
Diante
do choque de ter sido tirada do seu corpo à força e ter sido jogada nas
sombras,
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