segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Carta a Arariboia, o índio guerreiro

A história da cidade de Niterói é repleta de momentos de bravura e conquista, além de pessoas que, ao longo dos tempos, idealizaram e construíram belos lugares que marcam até hoje a nossa paisagem. E nesse lugar tão rico em narrativas mora a maioria dos nossos educandos. Dessa forma, como não trazer tanta riqueza – riqueza tão próxima de nós – para a nossa Sala de Leitura? Impossível!

Pensando nisso, os alunos do quarto e do quinto anos, por meio de uma apresentação de slides, participaram de uma aula sobre a história de Niterói a partir dos pontos turísticos da cidade. Após ficarem sabendo mais sobre o Solar do Jambeiro, o Teatro Municipal, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e tantos outros lugares, cada um recebeu a proposta de escrever uma carta a Arariboia – índio guerreiro que teria lutado pela defesa das terras de Niterói em seu período de formação. De lápis e papel nas mãos e muitas ideias, perguntas e novos conhecimentos na cabeça, todos aceitaram a proposta e cartas incríveis começaram a surgir. Além disso, cada uma delas veio acompanhada de uma ilustração, também feita por eles. Mas as nossas atividades não terminaram aí...
Após a reunião de todas as cartas, uma carta coletiva foi montada, sendo constituída pelas partes mais relevantes da carta de cada um – partes essas indicadas pelos próprios autores.

Arariboia não responderá, mas, mesmo assim, temos a certeza de que, se pudesse ler, ficaria no mínimo comovido com tamanha sensibilidade e inteligência dos nossos “guerreiros da palavra”!



Carta na íntegra


            Niterói, 27 de março de 2015

         Bravo guerreiro Arariboia,

         Não temos certeza se você vai ler esta carta, mas vamos te contar algumas coisas sobre Niterói, que mudou muito! As barcas, os meios de transporte e as vestimentas mudaram. Temos internet, vaso sanitário, escolas mais modernas e celular, que é um modo de comunicação muito moderno. Desde que o senhor faleceu, houve muitas mudanças: por exemplo, o Palácio do Ingá. Perto dele tem um morro, e ele se chama Morro do Palácio. Alguns de nós moramos lá e é espetacular! Hoje o Palácio virou um belíssimo museu com muitas variedades, só que cada dia muda. Tem um palácio com o seu nome que foi a prefeitura antiga de Niterói. Temos uma grande escola de samba, a Viradouro, que já esteve entre as melhores do Rio de Janeiro! Tem o Campo de São Bento e o Horto, que são muito legais. Nossa cidade é assim, cheia de lugares novos, de museus muito antigos, como o Museu Janete Costa de Arte Popular, criado por essa moça que morreu há muito tempo e deixou seu museu para as pessoas visitarem. E o museu da Boa Viagem, que tem uma vista linda, com um restaurante lindo embaixo – é o Mac. Gostamos de ir lá por causa do wi-fi. Ah, e tem também a minha escola, o Colégio Universitário Geraldo Reis, que nós adoramos e que faz parte da UFF, uma das maiores universidades do Brasil!
         Mas e no passado, como foi a cidade de Niterói? Foi você que escolheu esse nome para ela? Realmente significa águas escondidas? Aliás, por falar no nome da nossa cidade, sabemos que, em 1819, se chamava Vila Real da Praia Grande, depois, Nictheroy, e, agora, Niterói. Soubemos que você e sua tribo lutaram muito e muito ajudaram a defender o que hoje é a nossa cidade. Naquele tempo, você zangou com os portugueses? E é verdade que os franceses habitaram a praia da Boa Viagem? Sua história poderia se tornar um jogo de videogame de tanta emoção: o que acha?
Você conheceu o Cristo Redentor? Agora você não precisa ir para o Rio nadando, temos duas soluções: ir de barcas ou pela Ponte Rio-Niterói e a Baía de Guanabara está poluída...
         A gente queria muito muito te conhecer, temos tantas perguntas, você nem imagina quantas! Será que agora você usa roupas?  Seu nome significa cobra d’água porque você nada muito? Qual sua praia preferida? Gostamos muito da praia de Icaraí, por exemplo. E a sua família, como estão seus descendentes e, principalmente, os curumins de sua tribo? Agora que você está no céu, você fica ou não subindo e descendo escadas de nuvens? Cansa muito? Aqui na escola, a gente sobe e desce rampas para chegar nas nossas salas, para descer para o pátio. Nós nunca vimos você em carne e osso, também nem éramos nascidos. Aliás, você está com 150 anos, não está?
         A sua tribo cresceu muito: agora tem muitas pessoas que gostam de Niterói, tem 487.562 pessoas. Mas será que aí em cima é melhor do que aqui embaixo, ou será que é ao contrário? Agora aqui tem uma coisa chamada urbanização... E, com isso, muita coisa mudou: tem casas muito grandes e modernas, carros, motos, internet, computadores, lojas. Na sua época tinha muita violência? A cidade está muito ruim porque está tendo muita violência. Tem muitos assaltos, mas em compensação está cada vez mais digital. Começaram os roubos, as pessoas estão indo por maus caminhos e estão matando a natureza para fazer construções. Agora está quase tendo a 3a Guerra porque está tudo mudado. Tem gente usando drogas, fumando, bebendo etc. Muitas pessoas viraram bandidos, assaltam muito e vão presos. A gente queria tanto que uma pessoa como você melhorasse o mundo... Os bandidos não seriam mais bandidos e as pessoas grandes e as crianças não morariam na rua e teriam uma boa casa, e todo mundo seria feliz. Mas fique tranquilo, não se assuste, porque você é nosso guerreiro. Se você estivesse vivo, estaríamos te olhando pra sempre, tá?!
         Por fim, a gente não pode deixar de agradecer, não é? Arariboia, você ajudou muito em Niterói. Gostaríamos que soubesse que, por isso, fizemos uma estátua declarada a você na chegada de Niterói! Ela é muito bonita! Parabéns por sua coragem e determinação. Obrigada, fundador de Niterói. Muito obrigado por ser o líder da sua tribo e assim conseguir lutar e criar nossa cidade. Hoje em dia, temos muito orgulho de você, por ter salvado todos os que moram aqui – e, onde estiver, saiba que te admiramos, temos muito orgulho de você por ter sido o homem que lutou muito. Tudo o que dizem sobre você é o suficiente para sabermos que você é um grande guerreiro. Obrigada por tudo, somos muito gratos a você e a todos que têm essa grande coragem. Esperamos um dia poder retribuir tudo isso! Se um dia existir uma pessoa como você, temos certeza de que irá fazer muito bem à cidade. Todos do Coluni somos gratos por tudo o que você fez pela cidade de Niterói.
         E grande é o mar, mas não tanto como o amor que temos por você.
        
         Um feliz e eterno abraço,
         alunos das turmas 401 e 501 do Coluni