A história da cidade de Niterói é
repleta de momentos de bravura e conquista, além de pessoas que, ao longo dos
tempos, idealizaram e construíram belos lugares que marcam até hoje a nossa
paisagem. E nesse lugar tão rico em narrativas mora a maioria dos nossos
educandos. Dessa forma, como não trazer tanta riqueza – riqueza tão próxima de
nós – para a nossa Sala de Leitura? Impossível!
Pensando nisso, os alunos do quarto
e do quinto anos, por meio de uma apresentação de slides, participaram de uma
aula sobre a história de Niterói a partir dos pontos turísticos da cidade. Após
ficarem sabendo mais sobre o Solar do Jambeiro, o Teatro Municipal, o Museu de
Arte Contemporânea (MAC) e tantos outros lugares, cada um recebeu a proposta de
escrever uma carta a Arariboia – índio guerreiro que teria lutado pela defesa
das terras de Niterói em seu período de formação. De lápis e papel nas mãos e
muitas ideias, perguntas e novos conhecimentos na cabeça, todos aceitaram a
proposta e cartas incríveis começaram a surgir. Além disso, cada uma delas veio
acompanhada de uma ilustração, também feita por eles. Mas as nossas atividades
não terminaram aí...
Após a reunião de todas as cartas,
uma carta coletiva foi montada, sendo constituída pelas partes mais relevantes
da carta de cada um – partes essas indicadas pelos próprios autores.
Arariboia não responderá, mas,
mesmo assim, temos a certeza de que, se pudesse ler, ficaria no mínimo comovido
com tamanha sensibilidade e inteligência dos nossos “guerreiros da palavra”!
Carta na íntegra
Niterói, 27 de março de 2015
Bravo guerreiro Arariboia,
Não temos certeza
se você vai ler esta carta, mas vamos te contar algumas coisas sobre Niterói,
que mudou muito! As barcas, os meios de transporte e as vestimentas mudaram.
Temos internet, vaso sanitário, escolas mais modernas e celular, que é um modo
de comunicação muito moderno. Desde que o senhor faleceu, houve muitas
mudanças: por exemplo, o Palácio do Ingá. Perto dele tem um morro, e ele se
chama Morro do Palácio. Alguns de nós moramos lá e é espetacular! Hoje o
Palácio virou um belíssimo museu com muitas variedades, só que cada dia muda.
Tem um palácio com o seu nome que foi a prefeitura antiga de Niterói. Temos uma
grande escola de samba, a Viradouro, que já esteve entre as melhores do Rio de
Janeiro! Tem o Campo de São Bento e o Horto, que são muito legais. Nossa cidade
é assim, cheia de lugares novos, de museus muito antigos, como o Museu Janete
Costa de Arte Popular, criado por essa moça que morreu há muito tempo e deixou
seu museu para as pessoas visitarem. E o museu da Boa Viagem, que tem uma vista
linda, com um restaurante lindo embaixo – é o Mac. Gostamos de ir lá por causa
do wi-fi. Ah, e tem também a minha escola, o Colégio Universitário Geraldo
Reis, que nós adoramos e que faz parte da UFF, uma das maiores universidades do
Brasil!
Mas e no passado,
como foi a cidade de Niterói? Foi você que escolheu esse nome para ela?
Realmente significa águas escondidas? Aliás, por falar no nome da nossa cidade,
sabemos que, em 1819, se chamava Vila Real da Praia Grande, depois, Nictheroy,
e, agora, Niterói. Soubemos que você e sua tribo lutaram muito e muito ajudaram
a defender o que hoje é a nossa cidade. Naquele tempo, você zangou com os
portugueses? E é verdade que os franceses habitaram a praia da Boa Viagem? Sua
história poderia se tornar um jogo de videogame de tanta emoção: o que acha?
Você conheceu o Cristo Redentor? Agora você não precisa ir para
o Rio nadando, temos duas soluções: ir de barcas ou pela Ponte Rio-Niterói e a
Baía de Guanabara está poluída...
A gente queria
muito muito te conhecer, temos tantas perguntas, você nem imagina quantas! Será
que agora você usa roupas? Seu nome
significa cobra d’água porque você nada muito? Qual sua praia preferida?
Gostamos muito da praia de Icaraí, por exemplo. E a sua família, como estão
seus descendentes e, principalmente, os curumins de sua tribo? Agora que você
está no céu, você fica ou não subindo e descendo escadas de nuvens? Cansa
muito? Aqui na escola, a gente sobe e desce rampas para chegar nas nossas
salas, para descer para o pátio. Nós nunca vimos você em carne e osso, também
nem éramos nascidos. Aliás, você está com 150 anos, não está?
A sua tribo
cresceu muito: agora tem muitas pessoas que gostam de Niterói, tem 487.562
pessoas. Mas será que aí em cima é melhor do que aqui embaixo, ou será que é ao
contrário? Agora aqui tem uma coisa chamada urbanização... E, com isso, muita
coisa mudou: tem casas muito grandes e modernas, carros, motos, internet,
computadores, lojas. Na sua época tinha muita violência? A cidade está muito
ruim porque está tendo muita violência. Tem muitos assaltos, mas em compensação
está cada vez mais digital. Começaram os roubos, as pessoas estão indo por maus
caminhos e estão matando a natureza para fazer construções. Agora está quase
tendo a 3a Guerra porque está tudo mudado. Tem gente usando drogas,
fumando, bebendo etc. Muitas pessoas viraram bandidos, assaltam muito e vão
presos. A gente queria tanto que uma pessoa como você melhorasse o mundo... Os
bandidos não seriam mais bandidos e as pessoas grandes e as crianças não morariam
na rua e teriam uma boa casa, e todo mundo seria feliz. Mas fique tranquilo,
não se assuste, porque você é nosso guerreiro. Se você estivesse vivo,
estaríamos te olhando pra sempre, tá?!
Por fim, a gente
não pode deixar de agradecer, não é? Arariboia, você ajudou muito em Niterói.
Gostaríamos que soubesse que, por isso, fizemos uma estátua declarada a você na
chegada de Niterói! Ela é muito bonita! Parabéns por sua coragem e
determinação. Obrigada, fundador de Niterói. Muito obrigado por ser o líder da
sua tribo e assim conseguir lutar e criar nossa cidade. Hoje em dia, temos
muito orgulho de você, por ter salvado todos os que moram aqui – e, onde
estiver, saiba que te admiramos, temos muito orgulho de você por ter sido o
homem que lutou muito. Tudo o que dizem sobre você é o suficiente para sabermos
que você é um grande guerreiro. Obrigada por tudo, somos muito gratos a você e
a todos que têm essa grande coragem. Esperamos um dia poder retribuir tudo
isso! Se um dia existir uma pessoa como você, temos certeza de que irá fazer
muito bem à cidade. Todos do Coluni somos gratos por tudo o que você fez pela
cidade de Niterói.
E grande é o mar,
mas não tanto como o amor que temos por você.
Um feliz e eterno
abraço,
alunos das turmas
401 e 501 do Coluni
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